domingo, 12 de maio de 2013

Dádiva de Medula Óssea




Você sabia que...

Dádiva de Medula Óssea

A dádiva de medula óssea é um procedimento, que pode ser usado para tratar alguns cancros do sangue (leucemias e linfomas), anemia aplastica (doença genética em que a medula é incapaz de produzir as células sanguíneas) e imunodeficiências primárias. Algumas destas situações clínicas, sem esta abordagem terapêutica, são fatais.

O que é a medula óssea? 

A medula óssea é um tecido mole, gelatinoso que se encontra no interior de todos os ossos e que é responsável pela produção das células do sangue, os glóbulos vermelhos, os glóbulos brancos e as plaquetas. Estas células, apesar de serem diferentes no seu aspecto e nas suas funções, são provenientes de uma mesma célula mãe chamada célula estaminal hematopoiética (de hemato «sangue» e poiese «criação»).
As células estaminais são células indiferenciadas que têm a capacidade de se dividirem indefinidamente e que, em determinada altura, algumas são capazes de se diferenciarem em células com funções específicas como células musculares, células ósseas ou, como é o caso das células estaminais localizadas na medula óssea, em glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas.

É esta capacidade destas células que nos últimos anos tem vindo a ser investigada e tem criado uma esperança para algumas situações. O transplante de células estaminais hematopoiéticas (vulgarmente designada de transplante de medula) tem constituído nos últimos anos uma esperança renovada para alguns doentes.

As questões de compatibilidade no transplante de medula

Os dadores de sangue desde há muito que estão familiarizados com as questões de compatibilidade entre grupos sanguíneos. Falar do A+ (pos) ou do 0- (neg) já faz parte da linguagem comum e aos dadores não é estranho o facto de que os doentes do grupo A não podem receber sangue do grupo B, por exemplo, e que o grupo 0 Rh negativo é o dador universal, pode dar a todos.

Nos glóbulos vermelhos, as questões de compatibilidade entre grupos sanguíneos estão aligeiradas uma vez que existem 4 grandes grupos (o A, B, AB e o 0) que passarão a 8 se tivermos em linha de conta o sistema Rh (A+, A-, B+, B-, AB+, AB-, 0+ e 0-).

Nos glóbulos brancos também existem “grupos sanguíneos”. Acontece que nestas células sanguíneas os antigénios que determinam estes grupos sanguíneos não são só 8 como nos glóbulos vermelhos. Os Antigénios dos Leucócitos Humanos (são designados abreviadamente e na língua inglesa de HLA) apresentam uma variabilidade imensa o que torna, na maioria das vezes muito difícil de encontrar alguém que tenha um “grupo sanguíneo” do sistema HLA igual ao do doente que está a necessitar de transplante de medula.

Uma vez que a variedade é imensa, antes de se colherem as células estaminais hematopoiéticas para se proceder ao transplante, deve-se determinar o “grupo sanguíneo” do sistema HLA do candidato a dador, colocá-lo numa base de dados para que possa ser referenciado como compatível quando houver um doente a necessitar de um transplante. Como as dificuldades de compatibilidade são grandes, o registo dos dadores candidatos a dádiva de medula é partilhado por muitos outros países do mundo (Bone Marrow Donors Worldwild em www.bmdw.org) para que possa ser mais fácil encontrar alguém compatível, onde quer que ele esteja. Portugal é, de momento, um dos países com o maior número de potenciais dadores registados, graças a um forte espírito de solidariedade e de inter-ajuda que tem nascido de uma forma determinada e coesa no nosso país.

Como se dá medula óssea?  
                                    
Há uma expressão popular que diz “se não vai Maomé à montanha, vai a montanha a Maomé” e que pode ser aplicado à colheita de células de medula. De facto uma das hipóteses de colheita é ir “Maomé à montanha”, ou seja ir diretamente à medula óssea. A colheita é feita por punção da crista ilíaca (aquele osso que se sente nas ancas e onde o cinto das calças se apoia), é feita no bloco operatório, sob anestesia e requer um internamento de 24 horas. A outra hipótese é a de “a montanha ir a Maomé”, ou seja, fazer com que as células estaminais da medula apareçam no sangue periférico. Para que isso aconteça é necessário primeiro estimular as células estaminais através da administração de uma substância chamada factor de crescimento e depois, quando as células estimuladas começarem a aparecer no sangue periférico, é necessário colhê-las com o recurso a um aparelho que seleciona apenas estas células devolvendo o resto dos elementos celulares ao dador (técnica de colheita chamada aférese).

Juntos salvamos vidas

Até ao ano de 2003 Portugal dependia quase exclusivamente de dádivas vindas de outros países. Não tínhamos um número suficiente de dadores para podermos ajudar os nossos doentes.

2003, o caso clínico de uma doente foi mediatizado. Os meios de comunicação social, o CEDACE e o IPO trouxeram o problema a público e isso traduziu-se no crescimento exponencial de dadores inscritos e com tipagem concluída.


De uma situação de dependência do exterior, Portugal passou a estar nos 10 primeiros países com maior número de dadores inscritos com tipagem concluída (282.254 dadores em 12/03/2012).

Dos 106 transplantes de medula óssea realizados em 2011 com dadores inscritos no CEDACE, 27 foram para doentes nacionais e 79 para doentes internacionais.



O altruísta é aquele que considera a dedicação aos outros como norma suprema de moralidade.

Luis Negrão
Serviços Centrais
Instituto Português de Sangue e Transplantação, IP
(in, Noticias de cá e lá, Ano 1 nº4 Março 2012)

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